quarta-feira, 14 de setembro de 2011

AMARELAR DAS CORES



Vejo-te hoje no lago, imersa,
Mas a pouco já havia sentido
Teus ares e o gélido toque
Que com discrição me acometeu.

Faz-me ver o quão és dona,
Traiçoeira em minha vida infame...
Tiras do papel o que ainda
Não fora cumprido, e enche-se de regozijo!

Quando nas tardes, de súbito me vens,
Tiras de ordem meus ofícios
E minha escrivaninha ocupas fétida,
Usando tua caneta cor de bronze.

E eu, como ampulheta, olho-te
Estática, sentindo cair minha terra
Em teus morros, até que venhas
Fazer refúgio em minhas formas...

Sinto-me em teus armários empoeirada
Embora ainda não me faça presente,
Pois já me és, morte, tão íntima
Que posso ver-me na calmaria de teu leito, indigente!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

ESTRANGEIROS


Ao meu lado sinto
Uma força quase que egoísta!
Que me quer me consome
E que não me deixa livre ser.

Porém nesta, há nuances
De insensibilidade,
Que me desgasta me cansa
No entanto, faz de mim um pensador...

Sinto que como um estrangeiro,
Esse sentimento que tanto conheço
Ou dizia conhecer,
Pousou em mim.

Ou foste tu, ou eu,
Quem sabe nós, que por não saber
O suficiente de sofrimento atroz
Pousamos como estrangeiros no mundo do outro!



quarta-feira, 7 de setembro de 2011

NÃO PADEÇAS DE IMEDIATO

Que a vontade de por ora ver-me
Cause-te anseio de abraçar-me
E, que por tuas entranhas
Pouse como convulsão.

Que percas a fala só de pensar
Em pensar em tudo o que
Eu inocentemente causava-te
Quando descansava em teu rosto minhas mãos.

Que sejam breves e demoradas,
Suaves e grotescas as sensações todas
Que sentirmos nesse começo
Ou fim!

Já consigo até ver pálida tua boca sorrir
E inertes teus olhos secos piscarem...
Com que propriedade tu encantas
Meu ser tão criterioso?

Que teus braços imóveis de cansaço
Possam por um instante tocar os meus,
Que eu saiba ainda amar
Como um dia eu soube...

Ah... Que seja paciente o tempo
E que não traga consigo a maldade.
Que tenhamos ao menos tempo de abraçarmo-nos
Como um dia tivemos.


OLHARES À MEIA LUZ

Por entre fendas de minha porta,
Que é berço de matéria sem vida,
Tramando planos pérfidos  
Esboças sorriso lascivo.

Tu, que com cautela observas
Através das cores fulvas do meu lampadário,
Enlaçada nas volutas do meu cabelo
A Flor de Lótus,

Aguardas com sentidos tentadores
Que eu insinue liberdade
Ao pedido de deleite
Que sobre teus lábios oscila.

Mas os fatores do meu amor discreto
Vão além de teus trejeitos libertinos,
E são mais penetrantes que o toque
Com o qual tateias teu pincenê do bolso à retina.

Por isso desengane-se! Que ver-te,
Por proteção não me é permitido,
E a respeito de teus olhos,
Bem... Estes não são dignos de ver-me!



domingo, 4 de setembro de 2011

ALENTO


Na vidraça de todas as portas,
Tua imagem repleta de inocência
E de um ar puro que só tu tens,
Já se fez presente.

Vagueias infindo de palavras...
Mas nunca sabes o que dizer!
Tens em ti algo que me repugna
Que faz de mim um mero ser!

Sentir teu rosto, tua pele, teu gosto
Mais do que nunca parece-me
Complexo! Mais do que nunca
Parece-me o zéfiro de toda manhã!

Oh, pobre rapaz,
Que tu jamais tenhas de saciar
A sede em copo que a ti não pertence
E que eu, outrora, não tenha de desistir,

Pois, todos os muros a nós observam,
Mas como serva de palavras alheias
Peço-te, mesmo que não queiras:
__Deixa-me ver-te passar!


UNIVERSO


Quando na modesta noite
O céu intocável e virtuoso
Projeta a lua mais reluzente,
Teus olhos sorriem feito criança.

Reconheces a graça que o firmamento tem,
Mas, sabes sim como ninguém
Ou como filósofo que busca,
Que o teu mundo sou eu e só!

Se do pouco equilíbrio que tinhas,
Muito tirei, procures pois em mim,
Que, juízo não sei, mas repouso terás enfim.
Que mais quer um homem cansado?

De certo modo, já que errastes
Por um medo talvez inconsciente,
Sinto que me vês como fera,
Como quem repele a fragilidade

No entanto, teu casulo e nada mais
É o que na realidade sou.

Mas agora deixes não te importes,
Que a vida é passageira e,
Quanto aos teus erros...
Ah... Dormes pequeno, dormes!

SOLILÓQUIO


Por que queres viver a eternidade
Nessa terra onde todos os pesares
Montam com todo rigor
Em tuas costas?

Que adianta pensares que tem de ser longo
O que na verdade é breve,
Que se esvai a uma pancada só
No peito dolente de mágoa?

Pois que me deixem morrer!
Que a eternidade, se bem sei,
Está a muitas polegadas destes escárnios frios
Levitando n’outra dimensão
Num completo misticismo.

A passagem, eu muito sei, é dolorida
Porém, ser ciente da perda de tanto
Encantamento que oferece a vida
Não basta para aquietar o desejo inímico
De conhecer o que é divino.

Já que lamentas tanto
O quão a vida é efêmera,
Quando estiveres perto da partida
Dar-te-ei o que restar-me de vida

Mas, como oração ao meu
Inatingível espírito
Leia todos os dias, infinitamente
A história do mar, da vida, do riso, do menino.