I
Foi-me dado o
dever
Foi-me dado o
entusiasmo
A fome, a comida,
a sede, a vã bebida
O problema, o
desatar do laço.
A saudade, o teu
abraço
O drama, o meu
juízo
O choro, a
caminhada
A risada na
loucura!
Foi-me dada a
confiança
Mas aliança foi
quebrada
Do riso fez-se
lágrima
E a incumbência
foi-me dada.
Segurei forte a
porta
De tão intimada
dei resposta
Escorria na face a
ira
De não ter escrito
a lira que me foi imposta.
O medo dos livros
emergia!
Sim, dos livros!
Das letras, das linhas que não li.
Qual daquelas
cairia no tecer dos fios?
O fio quebraria se
tal desatino acontecesse!
Ah... mais belo
seria se eu vivesse,
Se não precisasse
ter posto à prova
De que meu saber
vale algo,
Porque se não
vale, o que vale?
Mas a dor tem que
passar na linha
E o sepulcro não é
sinônimo de lástima
Por isso, se eu
perder-me no dicionário,
Perdoem minha
falta de disciplina.
Deem um grito na
vizinhança
Que minha mão foi
pelo caminho errado,
Para que conheçam-me
logo pelo o que sou
Pelo o que faço, e
vejam o quanto meu lápis é traiçoeiro.
II
Quando eu caí em
desespero
Minha irmã sorveu
em calmaria
Toda a intensidade
do pulsar de minhas veias,
As insanidades de
hoje, de ontem...
Mas o meu surto é
breve,
Não nascendo do
que é concreto
Logo desmancha-se
em lucidez
O que penso ser
constante.
Se meus
sentimentos outrora
Encontravam-se à
margem da psicose,
É que sou humana e
insensata,
Por vezes incapaz
de distinguir o que me corrompe.
Uma voz doce
convidou-me a nascer
No princípio de
uma noite,
E devaneando entre
o ócio e o trabalho
Eu arquejei em
vida o deleite!
Fui dar-me com o
outro!
É... Aquele outro
lado da vida,
Onde o ponto do
tecido é fechado
E mantém submerso
o que é puro
Enquanto meu pano
velho se regenera
Irei desfrutar
deste que é novo,
O livro que estive
a usar agora faz companhia
Aos outros que
optei por não ler.
III
Não! Os rostos que
vi eram desconhecidos
O suor que
escorreu em meus braços
Entregou a aflição
do pesadelo
Que de mim tentou
sucumbir.
Oh mestres,
perdoem minha falta de fé
Em teus filhos...
Eles são sujos!
Porém vejam, estou
de volta à imundície!
Nada consigo
aproveitar se não a lama do que não aprendi.
O tecido que fiei
Já não mais é
digno de atenção,
Já não apara,
retém nem escoa,
Nisso, sinto-me
mais incipiente do que antes...
Mas para provar
que sou pesquisadora incansável:
Deuses todos, da
língua e da expressão,
Que não me falte o
léxico
Nem o poder de
persuadir!