terça-feira, 30 de agosto de 2011

ANTIQUÁRIO

                                 (à Camila Amaral)  


Quando o que dizes sem pensar
Provoca embora não queiras,
Repressão em meu espírito,
Eu calo e choro...

Se nem um mísero afago
De tuas mãos pequenas eu tenho
Por direito, porque quisera eu
Ouvir agrados por tua fala?

Os ventos que por ora nos sopram
Passam como passam as palavras, e
Como estas, deixam fragmentos de feridas.
E para meu sustento, eu os guardo e escrevo...

Aceites que o mal do poeta é não falar!
Que seria este sem os resquícios de dor
Que em seu peito lateja?
Perderia como míope que, em ausência de luz
Perde os óculos, teu instrumento de sobrevivência!

Por isso, quisera eu pedir-te que
Não me fales com superficialidade,
Fales o absurdo e adoeça-me,
Mas, por obséquio: Que tuas mãos fiquem cegas
Só até o momento em que, num dia sereno,
Molharem-se com meu pranto.

Sim... Fales para que eu viva,
Mesmo que em lástima, pois é esta minha sina!
Não é de meu grado que meu isolamento
 Faça-te dor, mas se te faz, fales,

Como num dia fez, ao entregar-me
Aquele pedaço de humildade que amassei.
Decerto, um dia quando eu encontrar
Me será desconhecido...

O tempo terá levado tua cor e
A maciez das mãos que o rabiscaram,
Porém, o aceitarei como no dia que o fiz cobertor,
E lembrança será para sempre...

Coleciono sofrimentos,
E são estes que me salvam.
Por ti, moça, tenho grande estima
Mas o teu bilhete está guardado
Na caixinha de meu antiquário!






terça-feira, 23 de agosto de 2011

EU



Quisera eu ser como os lençóis
Que voam leves e limpos
Empurrados pelo vento suave
Que soa ao meu ouvido como um sussurro...

Quisera tanto eu ser como
O pêndulo do relógio
Que se mantém sempre tão certo,
Que não se cansa que não quer recompensa.

Mas a mim, nada é cabível
E é mesmo ideal que em mim não confiem!

Porque na noite anterior
Eu surtei como um exorcizado
E quebrei todos os espelhos
E as leis do meu mundo!

No mais, como a correnteza do rio
Eu escoarei e refugiar-me-ei
No lugar mais puro
Para que a insanidade não me encontre.
Talvez isso seja a paz absoluta...

E talvez, nem os lençóis, nem os ventos
Nem os pêndulos sejam sempre perfeitos,
Decerto, como eu, todos eles
 Tem seus dias de fúria!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

TEMPO

                                             (Ao meu amável Pai)

Nas articulações destes ossos desgastados,
Nos movimentos prematuros causados pelos Janeiros,
Tua pele fina, tal como papiro,
Revela mais que anos vividos.

E os teus olhos tão abertos,
Sondam com cautela minhas horas
Como quem avalia ações errôneas,
Para advertir-me antes que eu as realize.

Não admires a pele macia de minhas mãos
Que ela é frágil como flor alva...
Quisera eu ter tuas rugas onde se esconde
O trabalho lavado de suor.

Tens a experiência marcada em teus calos
E deles eu só quero uma parcela,
Deixe que o resto eu conquiste caindo
Sobre a própria terra que te fez debilitado,

Para que na velhice eu tenha
A força que tens quando agarra
Com dedos rígidos meu ombro, e fala entre
Pausas informes que o tempo se fará em mim.















TEMPO



Nas articulações destes ossos desgastados,
Nos movimentos prematuros causados pelos Janeiros,
Tua pele fina, tal como papiro,
Revela mais que anos vividos.

E os teus olhos tão abertos,
Sondam com cautela minhas horas
Como quem avalia ações errôneas,
Para advertir-me antes que eu as realize.

Não admires a pele macia de minhas mãos
Que ela é frágil como flor alva...
Quisera eu ter tuas rugas onde se esconde
O trabalho lavado de suor.

Tens a experiência marcada em teus calos
E deles eu só quero uma parcela,
Deixe que o resto eu conquiste caindo
Sobre a própria terra que te fez debilitado,

Para que na velhice eu tenha
A força que tens quando agarra
Com dedos rígidos meu ombro, e fala entre
Pausas informes que o tempo se fará em mim.

REVELAÇÃO


Nas escolhas feitas que o tornam
Nada mais que uma criatura
De motivos fúteis,
Aí recostou a arrogância disfarçada,

Que o faz condenar-se
E ver o feio no que é solene,
E o ânimo destruído
No simples ato de pensar.

Não tarde arrancará de ti
Também a honra e o fará
Nos dias mais iluminados
A sombra que temes ser.

Quando quiseres sair desta, será tarde
E estes serão dias de tormenta.
Mergulhaste na impureza e
Por incipiência o fez!

Agora doure teu rosto no sol da falsidade
Que, por mais que sejas criança sem maldade
Desobedeceste teu próprio espírito
E violaste teus princípios mais caros.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

EU


Quisera eu ser como os lençóis
Que voam leves e limpos
Empurrados pelo vento suave
Que soa ao meu ouvido como um sussurro...

Quisera tanto eu ser como
O pêndulo do relógio
Que se mantém sempre tão certo,
Que não se cansa que não quer recompensa.

Mas a mim, nada é cabível
E é mesmo ideal que em mim não confiem!

Porque na noite anterior
Eu surtei como um exorcizado
E quebrei todos os espelhos
E as leis do meu mundo!

No mais, como a correnteza do rio
Eu escoarei e refugiar-me-ei
No lugar mais puro
Para que a insanidade não me encontre.
Talvez isso seja a paz absoluta...

E talvez, nem os lençóis, nem os ventos
Nem os pêndulos sejam sempre perfeitos,
Decerto, como eu, todos eles
 Tem seus dias de fúria!