quarta-feira, 8 de agosto de 2012

ANALOGIA AO NOSSO AMOR


De tudo dar-te-ei do mundo!
Não... O mundo tem feição ríspida.
Quero dar-te do belo, do puro...
Assim não o darei.

A não ser que eu me faça pássaro
E, dê-te meu cantar, minha nobreza.
Ou então semente, para que eu floresça,
Germine todo o campo e dê-te vista esplêndida.

Tu acariciarás minhas pétalas
E te soprarei meu ar fresco,
Tão perfumado e inebriante
Que tu te perguntarás: Como pode tão perfeita?

Porém, como há de ser,
Por épocas me farei sem cor
Sem vida, sem quer, sem malmequer
Nem sequer ter um se ou querer ter.

Tu, igual camponês sem água no poço, sofrerás
E, eu poupar-te-ei de abraçar-me,
Que a tua dor deve ser expressa
Como o Homem Desesperado de Courbet.

Embora sem hora de chegar
Eu serei sempre fiel
Só para que eu o veja sorrindo surpreso
Ao perceber, discretas, minhas folhinhas surgirem.

Quando tocar-me,
Ainda no chão, pequenina,
Eu vou crescer querer ser tua
E será mais lindo.

Então tu entenderás que ir embora é preciso,
Que, para que venha a primavera,
O inverno tem que passar!

Desta forma será nosso amor,
Sem porto nem itinerário,
Por isso, todas as vezes que nos vermos
Sentiremos mais saudade.

Assim, será como se todos os encontros,
Todos os teus toques e olhares bobos pela manhã
Na tentativa de me acordarem,
Fossem os primeiros.

Eu ganharei mais graça, mais vida
Fecharei lentamente meus olhos para senti-lo cheirar-me
E sentirei como se fosse a primeira vez
Que me colheste em teus braços.



















Auto-retrato de Gustave Courbet (O Homem Desesperado).